18 de mai. de 2011

Considerações sobre o cinema soviético pós-guerra.

Considerações sobre o cinema soviético pós-guerra.

A mitificação de Stalin tornou sua presença onipresente em vários sentidos do cotidiano da sociedade soviética, seja através da arquitetura, pintura, literatura, organização partidária: a imagem de Stalin, após a guerra, adquiriu o status de mito. Era bastante comum que nas casas soviéticas o retrato de Stalin, estivesse pendurado nos locais mais nobres da parede. O culto a sua personalidade foi muito eficiente em enraizar no imaginário da população que a URSS só sobreviveu à guerra devido ao papel que Stalin desempenhou. O entourage de Stalin se esforçava para agradá-lo conferindo títulos, como o de “Generalíssimo”, que ele desprezou, pois só soube que tinha sido condecorado, através da leitura matinal do Editorial do Pravda, como narra Volkogonov em um dos seus livros[1].

Seu interesse pelo cinema aumentou exponencialmente ao seu isolamento. Se antes da guerra já era um cinéfilo inveterado, com o envelhecimento e o passar dos anos, ele dedicou bastante tempo, para assistir e opinar sobre os mínimos detalhes dos filmes e da indústria de produção cinematográfica soviética. Isso criou uma atmosfera de policiamento semelhante aos anos de terror da década de 1930’s, quando a produção de cada filme era fiscalizada nos seus mínimos detalhes. Taylor possui uma análise bastante inovadora e provocativa sobre a influência que o cinema teve sobre Stalin, durante estes últimos anos de vida e de pouca exposição pública.

A Imagem que os historiadores derivam da união Soviética através do cinema soviético do período de Stalin é uma ilusão, como uma vila Potiómkin. Mas como sabemos a partir do discurso secreto de Kruschióv, para o 20° Congresso do Partido em 1956, foi também essa imagem que o próprio Stalin extraiu do cinema Soviético. Um cinéfilo ávido, que nunca deixou os estreitos limites do Kremlin, ou de sua casa de campo nas proximidades, a visão de Stalin da realidade soviética foi ditada exclusivamente pelos filmes e cinejornais a que ele assistiu. (Taylor, 1990, pag. 48)[2]

Este interesse de Stalin se refletiu na criação do Ministério do Cinema em 1946, que teve como primeiro ministro Ivan Bolshakóv. (Beumers, 2009, pag. 107). A elevação do status da estrutura pública que controlava o cinema na URSS não se refletiu, imediatamente, em uma quantidade satisfatória de filmes produzidos por ano, principalmente para um país, com as dimensões e pretensões como a URSS. O número de filmes realizados na URSS decaiu a partir de 1945, e manteve esta tendência até o fim do Stalinismo. Para efeito comparativo, neste período, proporcionalmente foram produzidos menos filmes do que durante a Segunda Guerra. A destruição da infra-estrutura industrial soviética não explica, totalmente, o motivo de a produção ter caído tanto, pois a economia soviética não demorou muito tempo para retornar aos patamares de produção, anteriores ao período da guerra. A repressão que aconteceu a partir de 1946, sobretudo no campo das artes foi o fator principal da baixa produção fílmica e de outros ramos da indústria cultural. Neste sentido, devemos expor, ao público, alguns dos documentos oriundos de fontes primárias e secundárias que permitem uma maior interpretação do fenômeno repressivo e controlador, no qual o papel de Stalin era central, principalmente, quando a repressão envolvia questões culturais.

Carta de G.V Aleksandrov para I. V. Stalin. Publicada na Glasnost, 28 novembro- 4 dezembro de 1991, no. 48

6 de março de 1946. Moscou

Camarada I. G Bolshakóv informou de sua opinião negativa em relação à segunda parte de “Ivã o Terrível” de S. M. Eisenstein, bem como da decisão da TSK que proíbe a liberação da película para exibição devido a sua natureza “anti-artística e anti-histórica”.

O objetivo da minha carta não é para defender o filme!

As circunstâncias excepcionais e extraordinárias forçam-me a incomodar você. Entre os trabalhos críticos sobre “Ivã o Terrível”, tanto a primeira, quanto a segunda parte evocam duras criticas... Em 02 de fevereiro, Eisenstein concluiu os trabalhos sobre o filme e apresentou o material ao laboratório de cinema, mas algumas horas depois Eisenstein, de repente, sofreu uma angina grave no peito, que durou 36 horas. Apenas a intervenção médica e a aplicação de medidas enérgicas salvou-o da morte.

Tendo ficado doente assim de repente, Eisenstein me pediu para mostrar o filme para o Conselho das Artes da Comissão de Cinema. A maioria dos membros do Conselho das Artes teve parecer negativo do filme e submeteu-o a duras criticas - tendo tomado conhecimento, no entanto, que o trabalho foi feito com muita consciência, que foi original em métodos criativos, novo, em seus meios de expressão e altamente profissional. Também notaram que as conquistas foram grandes, na área de domínio criativo técnico da filmagem em cores, de acordo com o novo método. O Conselho das Artes decidiu encarregar a Comissão a apresentar propostas para corrigir e acrescentar ao novo filme, mas as condições de Eisenstein eram tão ruins, que não poderia haver nenhum acréscimo em breve.

Eisenstein insistiu em sair do hospital para que o filme fosse mostrado para você, Iossif Vissariónovich. Sua visão do filme tornou-se objeto de sua vida. Esta visão o preocupou mais do que qualquer outra coisa.

Ele investiu mais de cinco anos de sua vida, e de trabalho, neste filme. Ele filmou em condições difíceis, em Alma- Ata, e ele não tinha mais nada na vida além deste filme...

Conhecendo você, Iossif Vissariónovich, como um homem que está atento às pessoas e a infortúnios, um homem sensível e emocional e por outro lado, tendo conhecido o diretor por vinte seis anos, como uma figura ativa em nossa cinematografia, como um mestre de muitos mestres de renome, como fundador do cinema soviético, e , tendo em conta as circunstâncias extraordinárias acima, eu seria tão ousado a ponto de lhe pedir a não tomar uma decisão final sobre “Ivã o Terrível” até a recuperação de seu autor...

Estou me Voltando para você, como diretor artístico da Mosfilm e um ex-aluno de Eisenstein.

Com Profundo respeito e amor por você,

Gr. Aleksandrov.[3]

Algumas características do culto à personalidade e a função que Stalin tinha na vida cultural são evidentes na leitura do texto acima. Aleksandrov, logo no inicio do texto, ressaltou que o objetivo da sua carta não era a defesa do filme. Porém cumpriu esta função de maneira implícita, quando ressaltou que os membros do Conselho das Artes tinham dado a oportunidade de Eisenstein modificar o filme, devido aos avanços técnicos que o mesmo apresentava. Além disso, de maneira muito corajosa, expôs a Stalin o quadro de saúde de Eisenstein e as suas conseqüências para as mudanças que o filme deveria sofrer, devido as críticas que tinha sofrido, bem como a importância de Eisenstein para a cinematografia soviética. A carta também revelou a admiração, respeito e temor que os burocratas do Conselho das Artes era irrelevante: o que importava, mesmo, era a opinião de Stalin. Isso fica claro, nas entrelinhas, principalmente quando Aleksandrov revelou a Stalin que o objetivo da vida de Eisenstein, neste momento, era saber qual a opinião do Generalíssimo sobre a segunda parte de “Ivã o Terrível”

A conjuntura da indústria soviética, neste período, não poderia ser pior para o ambiente criativo. Além de a produção ter caído, e a censura ter se tornado pior do que nos anos 30, os temas que foram filmados não retratavam mais a realidade e os problemas da classe trabalhadora. Na década de 1930, mesmo com um sistema repressivo que tentou formatar um modelo fílmico, o cotidiano dos trabalhadores e os problemas recorrentes da organização soviética do trabalho foram representados em alguns filmes. Porém, com a vitória soviética, o cinema na URSS sofreu uma “despolitização” sem precedentes, na sua breve história. A representação do proletariado, como classe dominante, e as implicações disso na vida social se tornou um tema fora do padrão e, por isso, ele deixou a ser adotado na escolha dos roteiros.

Mesmo em 1930s, poucos filmes tinham lidado com trabalhadores: depois da guerra este aspecto da vida soviética desapareceu completamente de vista. Entre os 124 filmes que foram feitos, apenas quatro lidavam com trabalhadores, e destes “A Grande Virada” e “Fogos de Baku” não foram distribuídos. Os dois filmes restantes foram “O Mineiro de Donbass” de Lukov e “Longe de Moscou” de Stolper, filme baseado no romance de Vassilii Ajáev. O filme de Stolper destinou-se a mostrar que, em tempos de guerra, a produção de óleo foi tão importante como a luta contra o inimigo no front. Os Filmes do pós-guerra, certamente, não celebraram nominalmente a classe dominante, o proletariado. (KENEZ, 2001, pag. 205)

Os gêneros adotados pelo cinema soviético, no Pós-Guerra, não foram tão plurais quando comparados com a década de 1920. Kenez, observa que os filmes que retratavam expedições científicas ficaram muito famosos nesta época, isso, inclusive vai perdurar até depois do Stalinismo com filmes como “Carta Que Não Foi Enviada”, URSS, 1959, de Mikhail Kalatazov, cujo enredo focou na expedição de geólogos em regiões remotas da URSS. Porém, outros gêneros, que fizeram bastante sucesso neste período, foram às comédias e os filmes feitos para crianças, bem como alguns desenhos animados de extrema qualidade técnica, e que não ficam devendo, em nada, aos produzidos na Disney.

Referências Bibliográficas.

CLARK,K & DOBRENKO, E (orgs).SOVIET CULTURE AND POWER: A History in documents, 1917-1953.

TAYLOR, R. Soviet Cinema – The Path To Stalin. In: History Today.V.40, Issue 7. UK. 1990

VOLKOGONOV, Dmitri. Stalin: Triunfo e Tragédia. V.1, V2. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. 2004.

KENEZ, P. Cinema and Soviet Society: from the revolution to death of Stalin. Ed. I.B. Tauris & Co, LTD, New York, 2009.



[1] Ver: VOLKOGONOV,D. Stalin: trinfo e tragédia. V2. 2004, pag. 544.

[2] Ver: TAYLOR, R. Soviet Cinema – The Path To Stalin. In: History Today.V.40, Issue 7. UK. 1990.

[3] Este documento foi retirado de: CLARK,K & DOBRENKO, E (orgs).SOVIET CULTURE AND POWER: A History in documents, 1917-1953.

28 de mai. de 2010

Serra o neocolonialista!!

Serra que colocar a culpa do tráfico de drogas nos bolivianos, mais especificamente em Evo Morales. Serra estudou o processo de colonização da América, ele sabe o quanto o continente foi explorado pelos países do capitalismo central. O Fato de ele ter conhecimento sobre a história da América latina agrava e muito, o preconceito de raça e de classe expresso nas suas últimas declarações sobre a Bolívia. Serra é uma piada, ele se acha um gênio, como diz PHA, porém o tucano não diz que as armas ao qual ele se refere, não são produzidas pela Bolívia, e sim pelos EUA, maior exportador de armas do mundo. Green Go!!

24 de mai. de 2010

Amorim destaca a diplomacia brasileira: "EUA foram surpreendidos"

Amorim destaca a diplomacia brasileira: "EUA foram surpreendidos"

Celso Amorim é, em todos os seus gestos e palavras, o menos solene de todos os chanceleres conhecidos. Nenhum outro poderia ser o chefe da diplomacia com Lula na Presidência, nem com Itamar – mesmo incluídos os paisanos, isto é, os ministros políticos que, em alguns casos, se esforçam para adquirir caricatural physique du rôle.

Por Mauro Santayana, no Jornal do Brasil

Amorim, o discutido presidente da Embrafilme que patrocinou a produção de Pra frente, Brasil, provavelmente não conseguiria o mesmo desempenho com um presidente vindo das velhas famílias do Império, ou das novas famílias de imigrantes enriquecidos em São Paulo.

A atualidade determina a pauta de nossa conversa: que perspectivas há, no caso do Irã? Amorim se move entre a cautela profissional e o natural orgulho da ação positiva brasileira no mundo atual. Confessa, de início, que não tinha muita convicção de que houvesse grande possibilidade de acordo entre os Estados Unidos e o Irã, mas, da mesma forma, entendia que era preciso tentar tudo, para obter alguma coisa.

“Sempre fomos muito bem tratados, tanto da parte do presidente (dos EUA) Obama, quanto da parte da secretária (de Estado) Hilary Clinton. Posso dizer que não havia divergências quanto ao resultado pretendido, que era o de obter garantias de que o Irã só iria usar a tecnologia nuclear para fins pacíficos, mas os meios não pareciam os mesmos. Nós acreditávamos, e continuamos acreditando, na persuasão, no convencimento, na conversa amistosa, na sinceridade de nossos propósitos. Eles, no entanto, se mostravam muito céticos, quanto à possibilidade de que o Irã viesse a aceitar as condições que haviam proposto em outubro passado. Creio que eles se mostraram surpreendidos com o resultado. É provável que não esperassem a aquiescência do Irã aos esforços da Turquia e do Brasil, que agiram como países soberanos, interessados na paz. Eles gostariam de ter iniciado o processo de punição antes de nossos entendimentos – e responderam com a decisão da secretária de Estado de propor as sanções às chamadas grandes potências.”

Atrevo-me a observar que há uma diferença doutrinária, digamos, entre o presidente e sua competidora nas eleições primárias dentro do Partido Democrata, e que, provavelmente, Obama não pense exatamente como a secretária de Estado, que busca afirmar-se na ala direita de seu partido no Congresso. Amorim sorri com suave malícia. Ele sabe que eu não espero a contribuição de seu juízo, posto que, qualquer que ele fosse, seria diplomaticamente inoportuno.

E, agora, o que ocorrerá? – levo-o a retomar o seu pensamento. Amorim está otimista. Acha que os demais membros do Conselho de Segurança – sobretudo a China e a Rússia – podem concordar com a ideia, mas provavelmente não aceitem o conteúdo da resolução proposta por Washington.

Nesse momento, Amorim se desculpa, diante de um sinal de uma assessora que chega à porta. Deve atender a um chamado de seu colega turco, com quem estivera conversando antes de nossa entrevista. Não bem retornou ao Brasil, e está em contato permanente com Teerã e Ancara. De Teerã teve a promessa de que a carta, endereçada à ONU, reiterando os termos do acordo, que o governo de Ahmadinejad ficou de enviar até segunda feira, está sendo cuidadosamente redigida – e será enviada a tempo. “Essas coisas levam tempo, recomendam a ponderação, reclamam consultas. Na diplomacia, tempo e paciência caminham juntos.”

Acrescenta que, pouco a pouco, os norte-americanos e europeus compreenderão a necessidade de cautela. Isso, repete, fortalece seu otimismo, o mesmo otimismo de Lula. Lembra que, com o passar das poucas horas, já se percebem os sinais da prudência, por parte dos membros permanentes do Conselho, e com direito a veto.

Deu no New York Times

Comento com o chanceler matéria divulgada pelo New York Times – que, como seu editorial, interpretava os fatos em favor da senhora Clinton – e a reação surpreendente nos comentários dos leitores. Até onde eu havia lido (mais ou menos dois terços de quase 300 intervenções), não havia um só leitor que aprovasse a posição do Departamento de Estado.

Todos apoiavam – e muitos com linguagem dura – os esforços do Brasil e da Turquia para desamarrar, e não cortar, como parecem pretender os alexandres do Complexo Industrial Militar dos Estados Unidos, o nó górdio iraniano. Amorim não os havia lido, pediu à assessoria que acessasse a matéria; sorriu, feliz, para ilustrar o superlativo: interessantíssimo.

Observo que podemos ver, no episódio, a situação dos Estados Unidos no mundo de agora. O ministro comenta que há vários artigos, firmados por observadores respeitáveis, sobre a resistência de Washington – e seus aliados – à entrada de novas potências, novos países, no jogo internacional.

“Até há pouco eles nos convidavam para conversar sobre o clima. Na OMC foram constrangidos a nos ouvir. Mas consideravam que assuntos de paz e segurança entre as nações eram coisas deles. Assim, quando o Brasil e a Turquia entram no jogo, é natural que reajam. A tentativa, mesmo que seja simbólica, de a Turquia e o Brasil agirem de forma diferente, sugere que a arquitetura da segurança internacional, sustentada por algumas autodesignadas forças e países, não pode manter-se por muito tempo.”

Intervenho, para lembrar que os Estados Unidos têm oscilado, em sua História, entre os postulados de Hamilton e os de Jefferson. E quando a orgulhosa aristocracia da Nova Inglaterra se defronta com a eleição de um mestiço, com o sobrenome Hussein, há sinais claros de que alguma coisa mudou realmente naquele país. O chanceler resume em uma frase curta: foi uma mudança para melhor, mas seguramente não terá sido para o entendimento de parcela de suas elites.

“Há setores da sociedade norte-americana que, diante de um presidente com essas marcas biográficas, dele cobram uma posição mais dura, uma demonstração de força. Eu o vejo como homem propenso ao diálogo. Mas, sem dúvida, ele enfrenta dificuldades.”

Conselho de Segurança

Provoco-o, lembrando algumas críticas que se fazem à diplomacia brasileira: não estaríamos desprezando a prioridade da aliança continental sul-americana, em favor de uma intervenção no Oriente Médio? “Não, de forma alguma. O Brasil não pode desinteressar-se dos assuntos que afetam a paz mundial. Quando os nossos países, a Turquia e o Brasil, foram eleitos para o Conselho de Segurança, é claro que essa escolha acarretou-lhes a responsabilidade de cuidar da paz, em nome da comunidade internacional, e não somente em nome do próprio país ou de determinada região.”

“Não há tema que mais afete a segurança internacional do que o do Oriente Médio. Em algum momento, e com razão, eu via na Palestina o perigo maior da região, mas, nesta hora, a questão nuclear do Irã é mais premente. Tendo a possibilidade de atuar, de maneira positiva, com um país da região, que é a Turquia – o que foi uma boa combinação – o Brasil procurou agir em busca de uma solução pacífica, como é de seu dever. Isso não foge à nossa vocação. Afinal, quando participamos da Segunda Guerra Mundial, o fizemos na defesa da democracia. No caso atual, não se trata da guerra mas da paz. Melhor ainda.”

Diante das críticas, algumas acerbas, que alguns dos condutores da diplomacia brasileira, durante o governo passado, endereçam ao Itamaraty de hoje, permito-me observar que eles atuam como os famosos generais de pijama. Haveria uma categoria de “embaixadores de pijama”? Amorim se embaraça um pouco com a pergunta e, antes de responder com a elegância que tem faltado a alguns de seus adversários, permite-se uma boutade: os pijamas dos embaixadores devem ser da grife Versace. “Terá que haver uma governança multipolar”

Indago-lhe se esse grupo de diplomatas age em decorrência de haver perdido sua posição eminente no Itamaraty de Fernando Henrique, ou se há alguma coisa ideológica mais profunda. “Em primeiro lugar, eu prezo muito a liberdade de expressão, e acho perfeitamente válido que cada um dê a sua opinião. Também acho que não é por simples coincidência que determinados meios de comunicação busquem sempre os mesmos embaixadores com essa posição”.

“Já li muitas outras manifestações diferentes, de outros diplomatas e de setores da sociedade que não encontram a mesma acolhida desses órgãos tão solícitos à crítica à nossa política externa. Prefiro não ver, nisso, a manifestação de quem deixou o poder. Na verdade, todos nós temos como missão defender o Brasil e defender algumas ideias importantes nas relações internacionais. Acho, no entanto, que algumas pessoas têm dificuldade em adaptar-se aos novos tempos.”

“O Brasil ascendeu muito rapidamente no cenário internacional, principalmente em razão do desempenho do presidente Lula, na conciliação entre a boa economia e a justiça social – e, é claro, também por sua atuação internacional. Como a mudança foi súbita, a cabeça de muitos com ela não se acostumou. Por isso, mesmo aceitando que criticam com boa-fé, atuam sempre com a preocupação de que ‘não podemos brigar com tal grande potência’. Quando atuamos em Cancun, no caso da OMC, e na divergência sobre a Alca, muitos disseram: ‘Mas, gente, vocês vão brigar com os Estados Unidos?’.”

Nos tempos de Bush

O ministro cita a era Bush: “Ora, mesmo na época de Bush, as relações entre Lula e o presidente texano foram boas. Trabalhamos juntos, com êxito, em vários programas. É claro que, nesses assuntos delicados de paz e segurança, as coisas são mais difíceis, levam mais tempo, mas os Estados Unidos irão compreender que a participação ativa do Brasil não se faz contra os interesses deles, porque já passou a época em que um só país pode dominar o mundo. Terá que haver uma governança realmente multipolar.”

“Da mesma forma que, para muitos países é difícil entender essa mudança, é provável que pessoas que militaram durante muitos anos em situação diferente tenham dificuldade em entender que o Brasil hoje não só pode agir com independência, e defender seus interesses, ao mesmo tempo em que contribui para a ordem global. O fato é que a emersão dos Bric assustou um pouco. Conforme a gíria americana, há ‘new kids on the block’.”

Relembro o discurso de posse de Celso Amorim como chanceler do presidente Lula. Ele recomendou aos jovens diplomatas que não tivessem medo, nem arrogância. A postura do Itamaraty, hoje, pode ser considerada de Realpolitik? Amorim aceita a expressão bismarquiana, na medida em que o Itamaraty atua de acordo com a dimensão da realidade mundial. Pondera, no entanto, que, mesmo não agindo no vazio, a postura brasileira é fundada em positivo idealismo humanista.

“Acho que não nos podemos mover em uma política determinada pelo interesse cru. Essa posição não me entusiasma, nem ao presidente. A política que reúne o nosso interesse como nação e os nossos ideais humanistas é a da solidariedade, e ela nos está trazendo maior reconhecimento nos foros internacionais. Atuamos no sentido da universalidade, o que nos leva tanto às grandes nações europeias, como nos permite trazer a Brasília ministros de 50 nações africanas, a fim de discutir os problemas da agricultura. Vamos a Israel, vamos à Jordânia, vamos à Palestina e ao Irã, porque nós não temos posição preconceituosa.”

Ruy Barbosa, o patrono

Arrisco-me a dizer que essa política brasileira, de respeito à igualdade entre as nações, foi enunciada por Ruy Barbosa em Haia. Amorim não só concorda, como considera Ruy o patrono da diplomacia multilateral brasileira, da mesma forma que Rio Branco foi o patrono da diplomacia bilateral. De muitas outras coisas – e algumas importantes – falou o chanceler, mas todas dentro da mesma linha de raciocínio.

O Brasil cresceu muito, o mundo mudou muito, e é preciso enfrentar os problemas sem medo, mas sem as bravatas da adolescência. Entre as mudanças do mundo se encontra a instantaneidade da informação, que estimula a transformação dos indivíduos passivos em cidadãos atuantes, como se vê no mundo inteiro. Nossa autonomia de ação é um caminho do qual não poderemos retornar, a menos que estejamos dispostos a agachar-nos, depois que nos decidimos a andar de cabeça alta.

O caso do Irã é emblemático, porque a sua solução contribuirá para a consolidação de nova ordem mundial, com o fortalecimento das Nações Unidas e o fim dos ditados imperiais das grandes potências. De qualquer forma, a vigilância na defesa do entendimento entre as nações – é o que podemos resumir de suas ideias – terá que se manter, e a cada dia mais, porque a paz é sempre uma conquista esquiva da razão política.

Pré-conferência da Juventude reúne representantes de 29 países

Pré-conferência da Juventude reúne representantes de 29 países

Até o momento 140 participantes de governo de 29 países já confirmaram presença na Pré-Conferência de Juventude das Américas que será realizada em Salvador, no Hotel Pestana, entre os dias 24 e 26 de maio. O evento, que antecede a Conferência Mundial de Juventude, agendada para o período de 31 de julho a 13 de agosto, no México, vai debater os avanços das políticas juvenis no Continente e construir uma pauta conjunta que será levada ao encontro mundial.

A pré-conferência de Salvador está sendo organizada pelo Brasil a pedido do Comitê Internacional da Conferência do México, em reconhecimento ao esforço que o país vem realizando nos últimos anos para consolidar uma política de juventude que seja capaz de assegurar plenamente os direitos dos jovens, para que estes exerçam, na prática, o papel de protagonistas nos projetos prioritários do país.

Além de representantes governamentais e da sociedade civil do Brasil, já confirmaram participação no evento, Argentina, Belize, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Guiana, Haiti, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Uruguai, além de Espanha e França, que participam como observadores.

O ato de abertura da conferência esta previsto para às 10h de segunda-feira (24) e contará com a presença do governador Jaques Wagner, do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci; do secretário nacional de Juventude, Beto Cury; do prefeito de Salvador, João Henrique Barradas. Também estarão presentes a ministra de Juventude do México, Priscila Vera, o coordenador residente da ONU no Brasil, Jorge Chediek, a coordenadora regional do Fundo de População das Nações Unidas para a América Latina (UNFPA), Marcela Suazo e o secretário-geral da Organização Ibero-Americana de Juventude (OIJ), Eugênio Ravinet.

Fonte: SERIN



22 de mai. de 2010

Maior evento de estudos em cultura do país será realizado na próxima semana.


Maior evento de estudos em cultura do país será realizado na próxima semana
Pelo sexto ano consecutivo, o Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura – ENECULT receberá entre os dias 25 e 27 de maio, na capital baiana, centenas de teóricos, pesquisadores e profissionais para debater temas como culturas digitais, políticas culturais, espaços de cooperação internacional em cultura, cultura e violência, dentre outros.
Na programação do VI ENECULT, estão previstas duas palestras e três mesas redondas, com a presença de renomados estudiosos e profissionais da área cultural, como o sociólogo Renato Ortiz, a artista multimídia Giselle Beiguelman, a diretora geral do Gabinete da Secretaria Nacional de Cultura do Paraguai Rocío Ortega, dentre outros. Também serão apresentados cerca de 300 trabalhos multidisciplinares, selecionados entre mais de 560 propostas. Já para a festa de encerramento do Encontro, estão programados um show de samba com a cantora Juliana Ribeiro e o lançamento de 17 livros que abordam a temática cultural sob diversas perspectivas. Além disso, a programação paralela ao VI ENECULT conta com uma série de atividades. A programação completa pode ser conferida aqui.
O VI ENECULT tem como público-alvo pesquisadores, professores e estudantes universitários interessados em cultura, além de profissionais de instituições vinculadas ao campo cultural. Maiores informações pelo blog enecult.wordpress.com, email cult@ufba.br, twitter twitter.com/enecult, ou telefone (71) 3283-6198.
SERVIÇO:
Programação principal
Palestras e mesas redondas: dias 25 a 27 de maio, manhãs, na Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Canela
Apresentação de trabalhos: dias 25 a 27 de maio, tardes, na Faculdade de Comunicação (Facom)-UFBA, no Campus de Ondina
Show de encerramento e lançamento de livros: dia 27 de maio, 20h, no Palácio da Aclamação, Campo Grande

Programação paralela
Exposição território(s) de particularidades: 25 a 27 de maio, tardes, na Facom-UFBA. Traga seu objeto!
Lançamento do livro “Homenaje”: dia 25 de maio, 19h, no Teatro Gamboa Nova – Gamboa de Cima, 3, Aflitos.
Lançamento do livro “Cultura e Drogas: novas perspectivas”: dia 26 de maio, 19h, na Reitoria da UFBA.
Exibição do documentário “Adonde va el público?”: dia 26 de maio, 19h, na Sala de Videoconferência do PAF III da UFBA, Campus de Ondina
Estreia da peça “O melhor do Homem”: dia 27 de maio, 20h, no Teatro Martin Gonçalves – Canela.


-- Renata RochaAssessoria de Comunicação VI ENECULT
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PED extraordinário de Itapetinga

PED extraordinário de Itapetinga
Será realizado no dia 06/06/2010 (Domingo) no Município de Itapetinga um PED extraordinário. O PED será Acompanhado pela Executiva Estadual e obedecerá as mesma regras definidas pelos Regimento Interno do PED -2009


Fonte:PT Bahia.

21 de mai. de 2010

ARTIGO: SAIBA O QUE É O CAPITALISMO


SAIBA O QUE É O CAPITALISMO

18 Maio 2010
Classificado em Opinião - Internacional

Crédito: CeCAC
Atílio Borón*






O capitalismo tem legiões de apologistas. Muitos o fazem de boa fé, produto de sua ignorância e pelo fato como dizia Marx, “o sistema é opaco e sua natureza exploradora e predatória não fica evidente, perante os olhos de homens e mulheres do mundo” Outros o defendem porque são seus grandes beneficiários e arregimentam enormes fortunas graças a suas injustiças e iniqüidades. Há também outros (gurus, financistas, opinólogos, jornalistas especializados, acadêmicos bem pensantes e diversos representantes do pensamento único) que conhecem perfeitamente o que o sistema impõe em termos de custos sociais, degradação humana e do meio ambiente, mas como estão muito bem remunerados procuram omitir essas questões em seus relatos. Eles sabem muito bem, que a “batalha de idéias” que foi convocada por Fidel Castro é algo que pode ser perigoso para as ideologias que no intimo defendem e por isso não se empenham em denunciar as mazelas do capitalismo.

Para contraditar a proliferação de versões idílicas sobre o capitalismo e de sua capacidade de promover o bem estar geral examinemos alguns dados obtidos de documentos oficiais das ONU. Eles são sumamente didáticos quando se lê, principalmente em relação à crise atual – indicando que a solução dos problemas do capitalismo se obtém com mais capitalismo; ou que o G20, o FMI, a OMC e o BIRD, arrependidos dos erros do passado – irão efetivamente resolver os grandes problemas que afetam a humanidade. Todas essas instituições são incorrigíveis e irreformáveis e qualquer esperança de mudanças em seus comportamentos não é nada mais do que pura ilusão. Seguem propondo o mesmo, somente que o discurso é diferente e adotando uma estratégia de “relações públicas” desenhada para ocultar suas verdadeiras intenções. Quem tenha dúvidas que constate o que estão propondo para “solucionar” a crise na Grécia: as mesmas receitas que aplicaram e seguem aplicando na América Latina e África desde os anos oitenta do século passado.

Em continuação, podemos citar alguns dados com suas respectivas fontes recentemente sistematizados pelo Programa Internacional de Estudos Comparativos sobre a Pobreza localizado na Universidade de Bergen, Noruega, que fez um grande esforço para, desde uma perspectiva crítica, combater o discurso oficial sobre a pobreza elaborado desde mais de trinta anos pelo Banco Mundial e reproduzido incansavelmente pelos meios de comunicação, autoridades governamentais, acadêmicos e “especialistas” variados.

População mundial: 6,8 bilhões de habitantes em 2009

1,02 bilhão de pessoas são desnutridos crônicos (FAO,2009);

2 bilhões de pessoas não tem acesso a medicamentos (www.fic.nih.gov);

884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável (OMS/UNICEF 2008);

925 milhões de pessoas são “sem teto” ou residem em moradias precárias (ONU Habitat 2003);

1,6 bilhões de pessoas não tem acesso à energia elétrica (ONU Habitat, Urban Energy);

2,5 bilhões de pessoas não são beneficiados por sistemas de saneamento, drenagens ou privadas domiciliares (OMS/UNICEF 2008);

774 milhões de adultos são analfabetos ( www.uis.unesco.org );

18 milhões de mortes por ano devido à pobreza, a maioria de crianças menores do que cinco anos de idade (OMS);

218 milhões de crianças entre 5 e 17 anos de idade, trabalham em condições de escravidão com tarefas perigosas ou humilhantes, como soldados da ativa atuando em guerras e/ou conflitos civis, na prostituição infantil, como serventes, em trabalhos insalubres na agricultura, na construção civil ou industria têxtil (OIT: “La eliminación Del trabajo infantil, un objetivo a nuestro alcance” 2006);

Entre 1988 e 2002, os 25% mais pobres da população mundial reduziram sua participação no produto interno bruto mundial (PIB mundial) de 1,16% para 0,92%; enquanto os opulentos 10% mais ricos acrescentaram fortunas em seus bens pessoais passando a dispor de 64% para 71,1% da riqueza mundial. O enriquecimento de uns poucos tem como seu reverso o empobrecimento de muitos;

Somente esses 6,4% de aumento da riqueza dos mais ricos seriam suficientes para duplicar a renda de 70% da população mundial, salvando muitas vidas e reduzindo os sofrimentos dos mais pobres. Entendam bem: tal coisa somente seria obtida se houvesse possibilidade de redistribuir o enriquecimento adicional produzido entre 1988 e 2002 dos 10% mais ricos da população mundial, deixando ainda intactas suas exorbitantes fortunas. Mas nem isso passa a ser aceitável pelas classes dominantes do capitalismo mundial.


CONCLUSÃO

Não se pode combater a pobreza (nem erradicá-la) adotando-se medidas capitalistas. Isso porque o sistema obedece a uma lógica implacável centrada na obtenção do lucro, o que concentra a riqueza e aumenta incessantemente a pobreza e as desigualdades sócio-econômicas a nível mundial.

Depois de cinco séculos de existência é isto e somente isto que o capitalismo tem para oferecer ao mundo! Que esperamos então para mudar o sistema? Se a humanidade tem futuro, esse será claramente socialista! Com o capitalismo, não haverá futuro para ninguém! Nem para os ricos, nem para os pobres! A sentença de Friedrich Engels e também de Rosa Luxemburg: “socialismo ou barbárie” é hoje mais atual do que nunca. Nenhuma sociedade sobrevive quando seu impulso vital reside na busca incessante do lucro e seu motor é a ganância, a usura. Mais cedo ou mais tarde provocará a desintegração da vida social, a destruição do meio ambiente, a decadência política e a crise moral. Todavia estamos ainda em tempo para reverter esse quadro – então vamos à luta!

*Atilio Borón, doutor em Ciência Política pela Harvard University, é professor titular de Filosofia Política da Universidade de Buenos Aires, Argentina, e ex-secretário-executivo do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO).

http://www.atiliobo ron.com

Tradução: Jacob David Blinder

20 de mai. de 2010

Entrevista Exclusiva com Sandro Santa Bárbara, candidato a Governador pelo PCB.



1: Sandro, fale um pouco sobre sua trajetória política.

Eu sou professor de ciência política. Primeiramente iniciei minha atividade política no movimento estudantil na faculdade FFCH . No inicio de minha graduação em 1993 eu não tinha vinculo com nenhuma organização partidária, a aproximação com o PT se deu em 1996, Oficialmente eu só me filiei ao PT em 1999, e fiquei no PT até 2006. Nesse período eu acabei a graduação em 1998, ingressei no mestrado em 1999 de onde saí em 2001, e nesse período de 2001 a 2007 eu continuei a lecionar e a pesquisar, fui professor de algumas universidades particulares, fui professor substituto da UFBA entre 2001 e 2003, hoje sou substituto na UNEB e leciono em uma faculdade particular em Feira de Santana. Em 2007 ingressei no doutorado da PUC em SP, essa é minha trajetória acadêmica.

A trajetória política da qual eu falei um pouco, se da de maneira consciente aos 16 anos, e a partir daí participei de alguns eventos e essa consciência foi se desenvolvendo. Evidentemente que minha trajetória no PT foi muito importante para compreender o que significava os bastidores da política interna de um partido de esquerda, mas principalmente a relação política de um partido de esquerda como o PT com outras organizações do mesmo campo de esquerda, da direita e mais ao centro. Mas sempre, até antes de entrar no PT , eu sempre tive uma relação muito próxima com o PCB.

2: Como está o relacionamento político do PCB com outros partidos de esquerda no Brasil e no mundo?

No mundo eu tenho recebido muitas mensagens exitosas quanto ao que podemos chamar de reorganização da esquerda mundial, mas dentro de um arco de alianças que produzam uma frente de esquerda anti-imperialista e anti-capitalista. Procuramos manter com eles laços fraternos de solidariedade militante sobre a base do internacionalismo proletário. No ultimo congresso que realizamos em Outubro, contamos com a presença de delegações de 21 delegações estrangeiras e recebemos saudações de outros dezoito partidos comunistas e movimentos de libertação nacional.

No Brasil desde 2006, nós conseguimos concretizar, ainda que com alguns sacrifícios institucionais e estruturais, a frente de esquerda socialista com o PSTU e com o PSOL, e de lá para cá, temos percebido que não conseguimos levar adiante algumas das metas objetivas, que deveriam conduzir a frente para além das questões institucionais.

3:Na Bahia o PCB terá candidato ao Senado ou a câmara dos deputados?

Nós estamos trabalhando ainda esta possibilidade, estamos querendo concretizá-la assim como torná-la viável, mas o partido caminha na direção de colocar candidatos em todos os pleitos: deputados, senadores e governador. Evidentemente que não descartamos ainda o contato com os companheiros do PSOL e do PSTU.

4:Ainda existe uma possibilidade de Aliança entre o PCB e os demais partidos que não fazem parte do Governo Lula e Wagner.

Sim existe a possibilidade de aliança com os companheiros, porque o que foi traçado em 2006, era a formação de uma frente de esquerda socialista, como entendemos que a frente de esquerda continua a existir, mas precisa ser repactuada, porque entendemos que agora uma vez que o nosso País está em um estagio de desenvolvimento do capitalismo, que está no centro do cenário internacional, da economia internacional, que o Brasil faz parte do G20 , não mais na condição de um pais que vai ouvir mas que será ouvido, que delibera, então Brasil faz parte do cenário da economia mundial como um agente ativo. Então entendemos que nossa economia está num estagio de desenvolvimento superior do capitalismo, e deste modo entendemos também que a transição socialista, nesta fase histórica que estamos vivendo, pode ser postulada no âmbito de uma estratégia revolucionária.

5:Qual a sua avaliação do Governo Wagner?

A vitoria do PT em 2006 foi uma vitória que animou toda a esquerda baiana. Depois de 16 anos a contar do carlismo, mas muito mais de 16 anos, no mínimo décadas, no Maximo séculos de total governo das elites baianas,oprimindo, torturando, prendendo, exilando. Mas, vitória de Wagner representou no primeiro momento, que era e ainda é possível derrotar as mesmas forças conservadoras de sempre, e que infelizmente dominaram a historia política da Bahia. Então naquele primeiro instante a vitoria foi maravilhosa, mas no segundo momento quem participava da política mais ativamente percebeu que o governo Wagner uma vez empossado, teria que fazer alianças em nome da governabilidade. O PT em nome da governabilidade, através dos seus parlamentares na assembléia legislativa, teve que se aproximar de forças políticas tidas como conservadoras em nosso estado. A bem da verdade aproximação foi realizada para o governo poder executar seu programa apresentado durante a campanha de 2006. Então nós vemos assim, esse governo poderia realizar muito mais do que se propôs, mas infelizmente ficou a reboque das alianças no executivo e legislativo, como a atual formação da chapa. O governo Wagner contém pontos exitosos. Mas existem também pontos necessários. Que não foram contemplados. Que não contemplaram, com a adequada seriedade as demandas dos pobres, trabalhadores precarizados, etc, etc,

6: Qual a sua avaliação do governo Lula?

A avaliação é um pouco mais complicada porque não falamos de um estado que pertence a um país. Falamos de um país, não só de grande tamanho territorial, mas também de grande importância econômica para a América Latina e, estrategicamente, para o mundo. Em particular, nesse momento da economia e da política internacionais, onde os Estados Unidos, se não perdem o poder militar, mas, gradativamente, tem o seu poder econômico diluído. Em 2002, a eleição de Lula representa esse momento. Depois de oito anos de desgaste político, econômico e moral do governo FHC. Mas à medida que o governo começa a tomar conta da situação, tem que fazer o mesmo pacto da governabilidade. Ao se aproximar de outras forças como o PTB, em certo sentido do antigo PFL (o agora Partido Democrata), entre outras organizações mais à direita, faz conciliações necessárias à implantação do seu programa.

7: O que o PCB acha da mídia conservadora?

7:Estamos, no essencial, de acordo com a caracterização que você propõe. Conservadora, reacionária, racista e organicamente comprometida com os interesses do grande capital. Um bom exemplo de sua atuação pode ser encontrado no comentário de Boris Casoy a respeito dos garis de São Paulo. Ele se manifestou de maneira tão espontânea que fica difícil acreditar em suas desculpas posteriores, no canal de televisão o qual ele é apresentador. Acho que uma coisa fundamental para as organizações de esquerda e movimentos sociais e populares é que desenvolvam seus próprios instrumentos informativos para disputar com a grande imprensa burguesa a hegemonia no processo de construção do imaginário das pessoas. Nós precisamos disputar a direção espiritual da sociedade, participando intensamente do processo de formação da opinião pública. Mas parece que as forças hegemônicas no terreno das esquerdas renunciaram ao cumprimento desta tarefa.

8: O que você pretende realizar no primeiro ano de governo caso seja eleito?

8: No primeiro ano de governo pretendemos implantar os conselhos populares. Nós pretendemos governar com o povo da Bahia. E quem é esse povo da Bahia? A juventude negra, os trabalhadores da cidade e do campo, os jovens excluídos de toda a sorte, os trabalhadores em situação de desemprego ou que são trabalhadores qualificados, mas não se encontram à disposição do que a mídia chama de “mercado de trabalho”. Como se o mercado definisse aqueles que deveriam ocupá-lo, quando na verdade são os seres humanos que definem políticas de emprego, políticas educacionais. Então nossa primeira intenção é a implantação dos conselhos populares, a partir dos quais, governaremos o estado com o povo. Evidentemente, não somos ingênuos em desprezar as forças hegemônicas que hoje, e sempre, existiram na Bahia. Ao realizar essa tarefa, vamos mexer com essas forças, então, evidentemente, que os canais de comunicação serão criados. Mas entendo que os canais de comunicação não são os canais para a conciliação com essas forças. Estamos em uma sociedade cuja direção política encontra-se em disputa, e nada melhor do que estar aliado ao povo que sempre esteve excluído das questões da economia e da política baiana.

9: A segurança publica é um tema que estará presente em todos os debates, como o PCB avalia o quadro atual no estado?.

O quadro atual, infelizmente, não se modificou muito, embora no primeiro ano de governo Wagner tenha-se ensaiado uma mudança de postura nessa questão de segurança. A ênfase deve se deslocar das ações de caráter repressivo para as ações de caráter preventivo. Tais ações incluem todo um conjunto de iniciativas sociais como educação em tempo integral nas escolas, política de qualificação profissional e de emprego, política de recuperação de drogados, policiamento comunitário e investimentos públicos em urbanização, saneamento, educação e recreação na periferia Nós entendemos que a segurança tem que passar primeiramente pela melhoria na qualidade de ensino público. Nós temos que resgatar a educação pública de qualidade em nosso estado. Melhorar a qualidade de ensino, mas melhorando também as condições de trabalho ofertadas aos professores e professoras.

10: Educação e Saúde também são temas recorrentes nas eleições baianas: quais são as suas propostas para estas áreas?

A Bahia tem a felicidade de sediar em seu território Universidades como a própria UFBA, agora a Federal do Recôncavo, mas, principalmente, as estaduais. Nesse sentido, o trabalho governamental será o de agir, necessariamente, na direção desses segmentos acadêmicos, dessa pesquisa que já existe, e que nos indique um caminho, embora o partido já o possua. Quando eu falo para você que vamos governar com os conselhos populares a intenção é governar com conselhos que atuem também na educação e na saúde. Principalmente na área de saúde. Em particular o que acontece no SUS, para nós, é algo extremamente complicado então nos pretendemos, não só reformatar, mas romper com as estruturas na área da saúde que privilegiam sempre os mais ricos e incluídos, economicamente falando. É necesssário, sobretudo, ouvir os movimentos de professores, estudantes e trabalhadores da educação em geral. Discutir com as associações de pais de alunos e com os especialistas em educação popular.

11: O secretario de cultura Marcio Meirelles enfrenta uma oposição serrada por parte de alguns artistas que recebiam uma série de incentivos dos governos anteriores. Como você avalia a gestão da secretaria de cultura no governo Wagner? Quais suas propostas para área cultural do estado?

Essa área cultural tem desprezado, não só na gestão do Meirelles como nas anteriores, a grande criatividade que a nossa juventude possui. Voltando a questão da presença da juventude nos bairros periféricos da nossa cidade de Salvador e do interior. Quando você percebe que nós temos a condição de produzir atores como o Lázaro Ramos e outros que estão espalhados pelo Brasil inteiro e são ilustres desconhecidos, vemos o grande erro que cometemos no que concerne à produção da chamada cultura popular. O PCB nesse sentido é muito coerente. É necessário se aproximar o mais que pudermos do poder popular. A política cultural deverá ser formulada e implementada a partir do diálogo com a comunidade artística e os representantes do mundo da cultura. Nós entendemos que a política cultural não deve ser orientada apenas pelas imposições do mercado, mas deve privilegiar as manifestações da cultura popular em toda a sua diversidade.

12: Para o PCB o carlismo morreu?

12: É um assunto complexo, pois nós temos uma cultura política essencialmente personalista. Se você analisa a história da Bahia anterior ao surgimento de Antonio Carlos Magalhães você encontrará figuras como Antonio Balbino, Lauro de Freitas, J. J. SEABRA, e Juraci Magalhães. Uma cultura política personalista. Se formos por essa direção, vamos afirmar positivamente que sim, o carlismo morreu. Mas se entendermos um outro caminho, de que a cultura personalista permanece mesmo após o seu chefe maior ter morrido, nós dizemos que não, que existe uma estrutura ainda montada. Afinal de contas todo o império midiático está de pé. A rede Bahia, através da TV Bahia, da sua Rádio, das suas outras formações midiáticas no interior e em outros locais do nosso estado. O formato é ainda passado como se existisse o carlismo. È uma resposta um tanto complexa de ser dada, mas eu diria a você que as conseqüências políticas gestadas a partir do carlismo ainda são fortes. Tanto são fortes que as formações partidárias á direita sofrem um dilema entre propugnar uma política em relação ao governo Wagner como fizeram, ou se fincam seus alicerces no adversário principal à direita que é o Geddel Vieira Lima, ou se traçam um novo poder. Eu entendo que essas forças denominadas de carlistas vivem uma espécie de estagnação política, da qual poderá resultar seu desaparecimento político ou uma posterior reaglutinação. .

13: Se o candidato do PT o atual governador Jaques Wagner for eleito o PCB irá para a oposição ou dialogará com o governo?

O PCB mantém em relação ao governo Wagner uma postura de independência crítica. Não integra o seu (do governo Wagner) campo de alianças e possui, inversamente, seu próprio programa e alianças. Como o PCB faz política em torno de idéias e propostas e não em torno de pessoas, pode vir a apoiar e elogiar iniciativas adotadas pelo governo Wagner que estejam de acordo com as necessidades populares. Porém, a julgar pelo que foi realizado no primeiro governo e pouco provável que isto venha a ocorrer.

14: O PCB não possui representação Parlamentar em nenhuma esfera, se vc for eleito como irá governar nestas condições?

14: Acho que mais ou menos na primeira ou segunda questão eu respondi. Será uma gestão desafiadora, muito complicada e delicada. Não vamos enganar ninguém. Não será fácil governar numa situação muito adversa. Sabemos que teremos, contra o nosso partido e nossa postura, principalmente a mídia, seja ela ligada ou simpática ao carlismo, seja de fora do estado inclusive. Vão chover acusações espúrias, equivocadas de que vamos implantar o comunismo, que faremos aquelas coisas absurdas que nunca fizemos. Mas o partido é, além de coerente, muito consciente no sentido de que tem que governar com os setores populares organizados. Tem que governar com este poder popular em construção. É necessário entender que o partido vislumbra a possibilidade de construção de um bloco contra-hegemônico. Claro que esse nosso objetivo á a médio e a longo prazo. Nesse primeiro momento, uma vez eleito governador da Bahia, o PCB caminhará com a formação dos conselhos populares a fim de fazermos frente à sistemática oposição que nos será feita.

15:. Para finalizar, deixe uma mensagem para todos os eleitores da esquerda baiana.

15: Até o presente instante político do nosso estado, sempre fomos governados por forças reacionárias, conservadoras e que jamais atenderam as demandas que do povo, passando pela educação, pela saúde, pela segurança, emprego, lazer, cultura. Esse resquício de séculos, desde que a Bahia era colônia, se tornou, depois, parte do nosso país. Ainda agora, de cem anos para cá, essas questões se “agudizaram”. O recado para a população que pretende votar num partido de esquerda é que acredite no PCB, que acredite no Partidão. Um partido que, dia 25 de março de 2010, completou 88 anos de existência e tem toda sua tradição marcada por acertos e equívocos. Equívocos que o partido já assumiu interna e publicamente, pretendendo a partir dessa nova postura, assumir a condição de uma alternativa revolucionária, mas que se entende não como a única opção à esquerda. Outras organizações, como o Psol e PSTU, podem estar nos acompanhando nesse projeto de alternativa revolucionária. Nos colocamos como um partido da verdadeira esperança. Um partido do século XXI. O partidão é um partido não só de teoria, mas um partido de ação política. Que está tentando compreender a dinâmica do capitalismo hoje para tentar, consequentemente, compreender a melhor forma de superar esse capitalismo. Evidentemente, que o PCB entende que não superará o capitalismo sozinho. Isso só poderá acontecer com a ação das grandes massas. O partido terá muito orgulho e honra em fazer parte de uma frente que supere e destrua o capitalismo. Então à aqueles que entendem da mesma forma que entendemos, podem creditar seu voto na urna, que estaremos fazendo de uma forma muito coerente e programática.



Transcrição: Gabriel Vianna.